sexta-feira, 13 de julho de 2012

Fichamento-



MOORE, G. Escritos Filosóficos; trad. Paulo R. Mariconda. - São Paulo: Nova Cultural, 1989.
RAWLS, J. Uma Teoria da Justiça; trad. Carlos P. Correia. - Lisboa: Presença, 1993.
SEARLE, J. Mente, Cérebro e Ciência; trad. Artur Morão. - Lisboa: Edições 70, 1987.


         [...] “O filósofo Karl Popper afirmava que a conhecida frase ‘A voz do Povo é a voz de Deus’, foi durante muito tempo entendida como uma forma uma sabedoria sem limites, sendo assumida mesmo como a autoridade final sobre todas as questões. Esta "voz do Povo" equivale hoje figura mítica do "Homem da Rua", no seu voto e na sua voz. Nesse aspecto considera-se como a voz do povo aquele conhecimento tido como definitivo, de domínio público. São as chamadas "ideias feitas", "preconceitos" e também as "tradições". Essas são passadas e repassadas desde a infância e se sobrepõem ao conhecimento objetivo, de forma que de posse desse conhecimento coletivo ou Senso Comum, pouco faz em busca da confirmação científica daquilo que se tem como verdade absoluta, sendo que não há também o interesse nessa investigação. O Senso Comum responde às indagações básicas a contento e a sociedade, de uma maneira geral se dá por satisfeita com essas respostas”.
[...] “O filósofo inglês George Edward Moore (1873-1958) escreveu um ensaio intitulado Uma Defesa do Senso Comum (1925) onde já se demonstrava como um defensor contundente deste tema filosófico tendo como ponto de partida a compreensão precisa do significado das expressões da linguagem. Neste ensaio, ele sustenta que certos truísmos derivados do senso comum podem ser tidos como verdadeiros. Por exemplo, saber que um corpo humano presente e vivo é meu ou não; que em tempos diferentes, muitas diversas coisas aconteceram e que eu nasci num determinado tempo no passado entre outros” [...].
“Cada indivíduo, na maioria das vezes, sabe sobre si mesmo todas aquelas afirmações de sua história pessoal que ele afirma saber, no que diz respeito a seu pensamento e corpo. A confusão criada pelos filósofos em torno desse tipo de conhecimento dar-se-ia pelo fato deles tomarem essas questões do ponto de vista de uma terceira pessoa, fora daquele que afirma saber o que diz. Em outras palavras, outros seres humanos poderiam ter outros corpos sem que o sujeito soubesse que eram corpos humanos, já que da posição subjetiva não há como saber o que aconteceu no passado com outros seres humanos, além do próprio sujeito. Ora, da perspectiva externa, ninguém pode assegurar a verdade das proposições do senso comum. Só do ponto de vista interno e pessoal é que alguém pode dizer que sabe algumas sentenças triviais do senso comum, pertinentes ao seu próprio saber. O que Moore quer garantir é esse conhecimento mínimo de que cada um sabe que sabe a verdade das proposições do senso comum”.

[...] Falar com desprezo daquelas "crenças do senso comum" que mencionei é certamente o máximo dos absurdos. E há, obviamente, grande número de outras características na "visão do mundo do Senso Comum" que, se aquelas [crenças] são verdades, são certamente verdade também: por exemplo, que viveram sobre a superfície da terra não apenas seres humanos, mas também muitas espécies diferentes de plantas e de animais. (MOORE, G. Op. Cit., in Escritos Filosóficos, p. 253).

“Com isso, Moore quer dizer é que se uma pessoa sabe que uma proposição do senso comum é verdadeira, não há motivos para se duvidar que ela saiba, de fato, essa verdade. Isso não impede que outros acontecimentos venham a negar tal verdade. Entretanto, é preciso que alguma pessoa saiba que essa nova informação seja verdadeira, para que ela possa ser sustentada. O senso comum não precisa de mais nada, para provar a sua verdade, a não ser do conhecimento interno de alguém que sustenta uma dada afirmação como verdadeira. Além disso, uma vez posto esse conhecimento básico, a verdade do mundo exterior também poderia ser sustentada, do mesmo modo que as sentenças triviais, a partir da certeza de quem sabe”.
“Várias formas de se encarar o comportamento humano são derivadas da análise do senso Comum. As crenças e os desejos do indivíduo interagem com a mente deste produzindo uma determinada conduta. A análise desta conduta não poderia ser feita tomando como base apenas a física ou neurologia. A soma dessas ciências com a análise do Senso Comum dá origem àquilo que se chama de Psicologia Popular”.
“Os defensores da psicologia popular afirmam que a complexidade dos mecanismos de decisão para uma ação não permite que se abandone as crenças e desejos do senso comum, em favor de uma simples explicação fisiológica, sem levar em consideração as características intencionais de um evento mental. Se uma série de neurônios é afetada pela presença de determinado neurotransmissor, esse fato por si só não explica porque uma pessoa prefere ir para o trabalho a pé, de ônibus, metrô ou táxi. As escolhas desse determinado indivíduo revelam uma preferência moldada por outros fatores além de sua base física e material”.
“Embora nenhum evento na natureza possa ocorrer sem o suporte material, isso não quer dizer que a melhor interpretação desse evento deva se dar no âmbito das ciências naturais. Sobretudo quando se trata da ação humana, palavras como livre arbítrio, desejos, crenças e hábitos são indispensáveis para o entendimento real das causas que levam o agente humano a realizar ou não um determinado do ato”.
“Nesse sentido, a intencionalidade está além da descrição neurofisiológica do comportamento humano, precisando ainda da esfera da psicologia popular, típica do senso comum, para que uma explicação do fenômeno mental seja bem sucedida. Apesar de não conseguir, ainda, propor leis sobre esse comportamento, a psicologia popular não pode ser dispensada e o senso comum tem aqui um papel a desempenhar”.
         “Mais do que um saber imediato, a análise do Senso Comum está frequentemente ligado à resolução de problemas práticos do quotidiano, construído com base em experiências subjetivas. Esse saber resulta de sucessivas acumulações de dados provenientes da experiência, sem qualquer seletividade, coerência ou método. Trata-se de uma forma de saber ligado ao processo de socialização dos indivíduos, sendo muito evidente a influência das tradições e idéias feitas transmitidas de geração em geração”. 

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